quarta-feira, 13 de julho de 2011

PARA ANALISTAS, AÇÃO DO BC REDUZ RISCO CAMBIAL

Ainda que boa parte do mercado financeiro veja nas recentes medidas cambiais adotadas pelo Banco Central – mudança no cálculo da taxa Ptax e redução dos limites de posição vendida em dólar das instituições financeiras para US$ 1 bilhão – o objetivo principal de diminuir a pressão baixista sobre a moeda norte-americana, as ações não deixam de ser um escudo contra a eventual piora da crise europeia que se agravou ontem. Essa é a avaliação de diversos analistas, para os quais uma nova crise de liquidez, ainda que não seja o cenário mais provável, poderia causar problemas a muitas instituições que têm posição vendida em dólar elevada.
“As recentes medidas têm o sentido de coibir o excesso de especulação. De certa forma, ao conter as distorções que ocorriam no fim de cada mês para formação da taxa Ptax e reduzir a exposição cambial dos bancos, o BC também minimiza os riscos cambiais em caso de nova crise de liquidez”, analisa o gerente de câmbio da Fair Corretora, Mario Battistel.
A partir de 1 de julho, o Banco Central alterou a metodologia de cálculo da Ptax. Antes, a taxa era calculada pela média das cotações do dólar à vista, ponderada pelo número de transações feitas em cada valor e, agora, passou a ser definida pela média aritmética obtida em quatro consultas feitas pelo BC aos dealers de câmbio entre as 10h e as 13h10min. Pelo método anterior, muitas instituições financeiras usavam o chamado “dólar casado” – no qual negociam o diferencial entre o dólar à vista e o futuro, registrando as transações no pronto e no mercado de derivativos separadamente – com o objetivo de aumentar o giro no interbancário e influenciar a formação da Ptax, especialmente nos últimos dias de cada mês. Com a nova metodologia, o espaço para especulações no mercado futuro diminui.
Além disso, na sexta-feira, a autoridade monetária voltou a reduzir o limite de posições vendidas em dólar das instituições financeiras que são isentas de compulsório. Agora, caso as posições excedam US$ 1 bilhão ou o patrimônio de referência de nível 1 de cada instituição, haverá recolhimento de 60% de compulsório sobre a diferença que exceder esses valores. Em janeiro desse ano, o BC já havia limitado esse número em US$ 3 bilhões, mas na ocasião deu até abril como prazo para adequação. Desta vez, a medida tem validade desde ontem e, no próximo dia 18, o compulsório será recolhido sobre o valor que, na média, de ontem a sexta-feira, exceder US$ 1 bilhão.
Segundo Battistel, no que diz respeito à crise de dívida na zona do euro, enquanto União Europeia e Fundo Monetário Internacional (FMI) conseguirem contornar os problemas dos países periféricos com pacotes de ajuda e a imposição de medidas de austeridade, a tendência para o real continuará sendo de valorização. “Mesmo com o IOF elevado, o diferencial de juros interno e externo continuará remunerando o investidor”, afirma Battistel, ponderando, no entanto, que se houver um problema macro de maior amplitude que impacte na liquidez internacional, o cenário se altera. “Nesse caso, muitos investidores poderiam tirar recursos do Brasil para ‘tapar buracos’ em seus países de origem, o que traria problemas para quem possui grandes posições vendidas em dólar no mercado futuro”, completa o especialista da Fair Corretora.
O sócio da Humaitá Investimentos Frederico Mesnik não acredita que o Banco Central tenha tomado as últimas medidas como forma de se precaver de uma piora internacional. “Acho que se trata de apenas mais uma ação isolada que não funciona para conter um movimento que é mais forte do que o Banco Central. A não ser que haja uma nova megacrise lá fora, a tendência do real continua sendo de apreciação”, destacou. Mesnik, no entanto, admite que a mudança no cálculo da Ptax e a redução do limite de posição vendida em dólar diminuem um pouco a especulação e, por consequência, a volatilidade do dólar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário